quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Caminhos . . .

Em 2004, iniciei uma série de desenhos de pés que, posteriormente, seriam reelaborados e integrariam meu portfolio para seleção no Mestrado em Artes Visuais, da Escola de Belas Artes da UFMG, em 2005. Eram pés dos amigos, depois, pés de trabalhadores - urbanos e rurais, pés de morador de rua, catador de papel, garimpeiro, meus próprios pés (no trabalho "Sou lá onde não penso pensar")...
Fui angariando modelos e formando uma rede de "caminhos subterrâneos", alargando as referências e buscando conexões possíveis.
Sempre tive uma vaga lembrança de pessoas, em procissão, cantando... A imagem se configurou  durante esse processo de desenho dos pés:  uma cena da minha infância, quando os moradores da cidade, em ocasião de estiagem prolongada, saíram, descalços, pedras na cabeça, entoando tristes cantos religiosos enquanto subiam até um Cruzeiro fincado no alto de um morro - era um típico ritual de penitência, um pedido de chuva, um clamor... A música vinha em flashes em minha memória, às vezes, destacando agudas vozes femininas: "São Barnabé que morreu lá na serra... pedindo a Jesus Cristo que "manda" chuva na terra..."  Então, acrescentei a letra da música ao desenho dos pés de uma trabalhadora rural e carimbei os meus próprios, finalizando o trabalho "Miserere" (misericórdia).
A arte afeta e é afetada pela cultura. Nenhuma arte é isenta: desencadeia-se a partir de nossas vivências, da apropriação natural que fazemos da produção cultural da humanidade, do inconsciente coletivo, somados ao nosso horizonte de expectativas. Mas, não basta o artista e sua obra... pois que essa só atinge a sua completude no fruidor, naquele que a observa e dialoga com ela... no "leitor" - como bem disse Roland Barthes. O fruidor da arte, por sua vez, a apreende de acordo com suas próprias referências. E é, exatamente, essa troca dinâmica que faz a arte ultrapassar fronteiras...
Aos poucos, a série foi sendo construída e o  projeto de mestrado ganhou novos rumos: não usei minha produção como referencial, pois, me enveredei pelas trilhas do artista juizforano Arlindo Daibert,  mas,  tratei, dentre outras coisas,  das tênues e dinâmicas relações ("ralações") advindas da aproximação/confrontamento entre texto e imagem na arte - o que também, sempre foi uma investigação minha ...










Miserere - 2004
Técnica mista sobre papel.
















O papel nosso... - 2004
Técnica mista sobre papel.











Analisis - 2004
Técnica mista sobre papel.
















Sou lá onde não penso pensar - 2005
Técnica mista sobre papel.












Caminhos Subterrâneos - 2005
Técnica mista sobre papel.

2 comentários:

  1. ficou tudo muito lindo...sucesso...
    Lilian Gazzinelli

    ResponderExcluir
  2. Obrigada, minha querida!
    Quando vc vem a Brasília conhecê-los pessoalmente?!
    Lembre-se que nessa série tem os seus pés, também!!!
    Abs!

    ResponderExcluir